Será que a terrível morte da dentista Cinthya, em São Bernardo, ficará em vão? Serão necessárias outras mortes para que as autoridades brinquem de serem autoridades? |
CRESCI num ambiente de política ditatorial. Ou seja,
quando as autoridades políticas, judiciais e policiais não tinham muito que
fazer a não ser caçar militantes esquerdistas baderneiros, os tais subversivos,
que viviam promovendo terrorismo, seqüestros, assaltos a bancos e daí por
diante.
FALTOU um detalhe: estas autoridades só fizeram o
enfrentamento aos tais subversivos por intervenção do governo estadunidense,
via CIA (Central de Inteligência Americana), que, a época, desejava varrer da Terra
todo o ser humano que tivesse ao menos um livro de Karl Marx escondido nos
antigos colchões de molas.
OS LADRÕES da época eram românticos, como o Bandido da
Luz Vermelha, que assaltava mansões de forma inteligente sem quase deixar
deslizes, cujas espertezas viraram até filme de cinema, e com sucesso.
HAVIA bandidos
medíocres e
sanguinários, mas que eram localizados, presos e em alguns casos eliminados em
enfrentamento com a polícia que se utilizava das baratinhas, um fusca adaptado
para a Segurança Pública. Mas, que funcionava. Quando se ouvia a sirene das
baratinhas era um corre-corre para todos os lados. E tiro também. Não ficava
uma alma na rua, só após o enfrentamento e com os corpos estirados é que
algumas pessoas ousavam mostrar a cara diante da polícia.
QUANDO se via os corpos dos bandidos ou de alguns dos
subversivos estirados no chão ficava-se indignado.
Na Baixada Santista, nas margens da estrada padre Manuel da Nóbrega, era comum deparar-se diariamente com corpos crivados de balas, jogados nas valas de esgotos que margeavam aquela via.
Na Baixada Santista, nas margens da estrada padre Manuel da Nóbrega, era comum deparar-se diariamente com corpos crivados de balas, jogados nas valas de esgotos que margeavam aquela via.
A SOCIEDADE passou a se
indignar, se
levantando contra aquele estado de coisas, pois se entendia que eram imagens péssimas
às crianças daqueles tempos.
DE FATO, quanto mais a CIA, a temível
agência de inteligência dos Estados Unidos, apertava o governo brasileiro para
combater os subversivos, mais corpos iam aparecendo, misturados aos inocentes,
também.
APROVEITA-SE para eliminar as 'bichas' e 'sapatonas' (os gays de hoje), assim como prostitutas, maridos ou esposas infiéis, malandros de todas as espécies, cafetões, devedores, pederastas e outros 'foras da lei'. Fazia-se uma faxina geral no que não era legal para viver na sociedade.
APROVEITA-SE para eliminar as 'bichas' e 'sapatonas' (os gays de hoje), assim como prostitutas, maridos ou esposas infiéis, malandros de todas as espécies, cafetões, devedores, pederastas e outros 'foras da lei'. Fazia-se uma faxina geral no que não era legal para viver na sociedade.
INVESTIGAÇÕES jornalísticas da época descobriram que havia uma milícia
armada dentro da própria Polícia denominada de Esquadrão da Morte como
operadora de todas as mortandades existentes naqueles tempos.
FOI aí que as
autoridades
brasileiras, pressionadas pelas instituições de direitos humanos
internacionais, tiveram que dar um basta à situação, minimizando os impactos,
aparentemente.
HOUVE uma redução da
violência, tratando-se
apenas de casos isolados. Mas os debates prosseguiam na busca de uma solução,
principalmente para os jovens. A proposta foi investir mais em Educação, construindo
escolas para ocupar a mente das crianças e adolescentes. Foi aí que a droga entrou
e entrou com tudo.
EMFIM estou salientando tudo isso para
mostrar que nos dias atuais se indignar, simplesmente, pelo fato de seu direito
de ir e vir não estar sendo respeitado, tornou-se uma banalidade sem a quem
recorrer e que, em muitos casos, se tornam em sumários atos de violências
extremas.
COMO por exemplo, uma pessoa reclamar do barulho excessivo
da igreja vizinha, do cachorro fazer coco nas vias públicas, do som alto de um
carro, da preferência do pedestre em atravessar uma rua, do comércio ocupar boa
parte da calçada, e assim por diante.
SÃO coisas que todo o ser humano deve respeitar o limite
do outro. Estes tipos de coisas se aprendem, primeiramente, com os pais e
depois na escola.
SE as coisas mínimas não são respeitadas, imagine se as
maiores a serão. Não há Justiça e Polícia que possa solucionar todas as
indignações pequenas que acabam se tornando indignações ainda maiores.
A VIOLÊNCIA está no
cerne do ser humano,
faz parte dele. Fica adormecido, mas está pronta para explodir, como um vulcão
adormecido.
ALGUMAS coisas podem atenuar esta violência dormente: Educação
para todos, indistintamente, de qualidade e técnica, mas simples, sem
complicações, como já propôs Paulo Freire, pedagogo brasileiro de reconhecimento
internacional; Oportunidades garantidas aos que vão se formando técnica e
intelectualmente; Valorização e promoção de cada ser humano em tudo o que faz
pelo esforço do que aprendeu, do que exerce.
DINHEIRO e recursos para isso não faltam. O Brasil, por
sua extensão territorial, é imensamente rico. Falta a sociedade se organizar e
cobrar, com rigor, que o governo cumpra suas vontades e não projetos prontos.
DIGO tudo
isso para lamentar sobre a morte em que foi submetida a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza, de São
Bernardo, na manhã de ontem (terça-feira), quando jovens invadiram seu
consultório para roubar. Como não tinha dinheiro suficiente foi condenada
sumariamente, à semelhança dos tempos da Santa Inquisição Católica: a terrível morte de
fogo, amarrada em sua cadeira de cirurgia e sob a testemunha de uma cliente que,
com olhar de horror, viu tudo como se estivesse no cenário desses filmes de
extremo terror.
ENQUANTO isso, as autoridades que deveriam
estar cuidando desta extremidade ficam discutindo sobre se devem ou não aprovar
40% da multa contratual das empregadas domésticas.
E o
pior disso tudo é que os homens que deveriam estar cuidando do bem estar
público são os mesmos subversivos cassados pelo governo ditatorial e pela CIA.
É preciso
dizer algo mais?
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