quarta-feira, dezembro 10, 2008

Com a desistência de Eike Batista, Vale do Ribeira pode ter porto

EMPRESA DIZ QUE NÃO, MAS EMPRESÁRIO AFIRMA QUE CRISE MUNDIAL AFETOU SEU BOLSO, ALÉM DAS PRESSÕES DAS LEIS AMBIENTAIS

JOSÉ VANIR DANIEL

Com o anuncio oficial da LLX Logística, uma das empresas do grupo de Eike Batista, desistindo dos investimentos na construção do Porto Brasil em Peruíbe, o Vale do Ribeira volta ser a bola da vez, com a possibilidade da retomada do porto de Iguape. Depois de sofrer pressões dos grupos de meio ambiente, de organizações indígenas e da Justiça Federal, a LLX anunciou que, “seguindo os princípios de disciplina financeira” resolveu suspender a construção de terminal portuário com o objetivo de transportar os minérios localizados em terras da tribo Guarani que ainda subsiste naquela região do litoral sul em meio a pressões do mercado imobiliário.

A empresas diz que desiste da operação alegando questões técnicas e de prioridades de investimentos, mas não mencionou se a decisão é motivada pela escassez de crédito nacional e internacional no mercado econômico mundial. Os diretores informam que a proposta é fazer cortes de 50% na demanda do total de investimentos, saindo dos US$ 3,9 bilhões para em torno de US$ 2 bilhões. Outra informação é que a empresa agora em diante concentrará forças na construção dos portos do Açu e do Sudoeste, ambos com previsão de operação entre 2010 e 2011.

O megaprojeto da empresa em Peruíbe estava orçado em R$ 6 bilhões e havia negociações com a ALL para ligar o porto à rede ferroviária do interior do estado. A intenção era fazer um porto maior ou tão grande quanto o de Santos.

TERRAS INDÍGENAS
Um dos pontos que pesou para que o Porto Brasil não vingasse foi o fato de querer ocupar 19,5 milhões de metros quadrados de terras indígenas. Durante a euforia da notícia dos investimentos e na data da audiência pública, a Justiça Federal, através do juiz Antônio André Muniz Mascarenhas de Souza, da 1ª Vara Federal de Santos, suspendeu o evento com base na ação cautelar promovida pelo Ministério Público Federal (MPF), que afirmava a construção do porto em reserva indígena ainda remanescente da descoberta do Brasil.

De acordo com o MPF, as terras são ocupadas pela comunidade indígena Piaçagüera, de domínio da União, e estão em fase final de demarcação junto à Funai. Por isso, nenhum empreendimento poderá ser implantado no local até sua conclusão. Os próprios promotores informaram também que a empresa de Eike Batista estaria pressionando os índios a desocuparem a área em troca por outra ou vantagens em dinheiro.

A medida atingiu até mesmo o Governo do Estado que vinha apoiando deliberadamente o projeto da LLX sem proteger os interesses naturais dos índios. Diante disso, a Justiça Federal requereu que o Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) propagasse em sua página da Internet a veiculação de notícia da suspensão do ato.

REVERSÃO
Dias depois a própria Justiça Federal, por meio da juíza Simone Karagulian, da mesma 3ª Vara Federal de Santos, negou liminar que suspendia o licenciamento da construção do Posto Brasil. O MPF, de Santos, entrou com recurso questionando a decisão reiterando os pedidos de ação civil pública proposta anteriormente e para que o Estado de São Paulo, por meio do Consema, suspenda o procedimento de licenciamento ambiental do empreendimento.

Na mesma medida, os procuradores da República Luiz Antonio Palácio Filho e Luís Eduardo Marrocos de Araújo propuseram também, em conjunto com a Funai, que a LLX seja proibida de entrar na terra indígena de Piaçaguera e fazer abordagem a seus membros sem autorização, assim como a empresa não promova publicidade do projeto e não proceda qualquer ato para realizar o licenciamento, como executar estudos ou protocolar petições em quaisquer órgãos públicos. Além da aplicação de multa no valor mínimo de R$ 100 mil para o descumprimento dos pedidos.

CRISE
Em entrevista para o jornal Valor Econômico, o empresário Eike Batista confirmou a retirada do projeto do porto de Peruíbe devido à crise do mercado internacional. Ele mesmo anunciou que teve uma perda considerável de US$ 10 bilhões. Com esta soma, ele estava se enquadrando entre os homens mais ricos do planeta. “Deixei de ser um homem de US$ 16 bilhões para ser de US$ 6 bilhões, mas isto não mudou muito coisa na minha vida. Continuo comendo meu mamãozinho no café da manhã e ninguém me tirou a capacidade de produzir riquezas - afirmou ao jornal. Numa crise, posso investir 1 e ganhar 3. Antes, investia 1 e ganhava 5”, disse.

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