segunda-feira, abril 08, 2013

O CASO DE ORURO


A morte covarde de Kevin ficará em vão?
Leoz, da Comebol, deveria ser questionado
Estaria Capez de olho nos votos?
Olhando pela ótica jurídica brasileira não é nada compreensível a detenção dos doze torcedores corintianos presos na Bolívia, considerados, até então, culpados pela morte do torcedor Kevin Espada, no jogo entre San José e Corinthians, em Oruro.
 
No entanto, pela lei boliviana, os doze ficam presos até uma ordem final da justiça suprema daquele país.
 
Não pretendo aqui julgar o mérito em favor de ninguém, mas é necessário que se faça uma análise acurada do que está acontecendo neste imbróglio.
 
Uma pessoa foi morta covardemente. Neste caso tem que haver um responsável. A Justiça boliviana está preocupada em dar à um resultado justo diante do sofrimento dos familiares de Kevin, o que é louvável.
 
Por outro lado, a justiça boliviana não é a mesma da justiça brasileira. Lá as leis são aplicadas a toda e qualquer pessoa que transita pelo país, indistintamente e severamente, o que também louvável.
 
A torcida corintiana, que não é flor que se cheire, principalmente a Gaviões da Fiel, tem o costume de chegar em algum lugar principiando que pode abusar por sentir a possibilidade de impunidade.
 
Ocorre que o Corinthians, com a conquista do Mundial da Fifa, entra para o rol dos grandes times da história do futebol mundial. Contudo, a mentalidade da torcida ainda é a mesma, se comportando desde os idos jogos com o Juventus, o time da rua Javari. Partem para qualquer tipo de ignorância contra qualquer torcedor adversário. Não aceita provocação amistosa, mesmo perdendo ou ganhando.
 
É lógico que no meio desta imensa torcida, há torcedores simpáticos e afáveis. Mas, a maioria vê um simples atos de torcer como uma guerra. Selvageria pura.
 
Uma coisa que o esporte não deve ser visto nos dias modernos atuais é como guerra de selvagens, dos tempos dos vândalos europeus do norte na conquista do velho continente. Ainda há remanescentes daqueles vândalos como torcedores de futebol, mas são vigiados permanentemente. Qualquer ação estranha são imediatamente punidos.
 
Também não quero dizer aqui que só a torcida corintiana seja a única violenta. Muito pelo contrário, há mais violência nos estádios quando se reúnem as torcidas de Bahia x Vitória, Santa Cruz x Náutico, Sport x Santa Cruz, Spot x Náutico, Fortaleza x Ceará, Paissandu x Remo, Internacional x Grêmio, Coritiba x Atlético Paranaense, Cruzeiro x Atlético Mineiro, etc. Quando estas torcidas se encontram, além de proporcionarem maiores públicos do futebol brasileiro, é um deus nos acuda.
 
Mas, voltando à ótica da morte de Kevin, certamente, os responsáveis diretos pelo caso não sejam apenas os torcedores corintianos.
 
Primeiramente, o maior responsável é a Comebol, a confederação que congrega o futebol sul-americano e organiza a Copa Libertadores que, de fato, só pensa no polpudo dinheiro que entra nos cofres e não de qualificar a competição e aproximá-la dos moldes europeus.
 
Sim, a Comebol é que, pela lógica, deveria estar sendo questionada e seus dirigentes sendo levados às barras da Justiça por não oferecem segurança aos torcedores, a começar pela falta da proibição de sinalizadores e morteiros nos estádios. Aliás, nem verificar a capacidade dos estádios, os dirigentes da Comebol fazem.
 
Este incidente mostra que o octogenário Nicolas Leoz deve ser afastado imediatamente da presidência da entidade por ser um homem muito idoso e por não medir mais a responsabilidade do que autoriza, assim como das acusações de corrupção que a entidade convive permanentemente.
 
Devem ser responsabilizados também os dirigentes do San José e do Corinthians por não orientarem e fiscalizarem os torcedores a terem um comportamento de não agressão, ou seja: apenas torcer, nada mais que isso.
 
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que não tem nada a ver diretamente com o fato, programou um amistoso contra o selecionado boliviano para conseguir arrecadação em favor da família de Kevin. Este gesto não passou de puro oportunismo de marketing do fanfarrão presidente da entidade, José Maria Marin. Mesmo assim, torce-se para que boa parte do dinheiro arrecadado chega às mãos dos familiares de Kevin.
 
No entanto, esta partida não resolve a questão jurídica do caso, pois a justiça só será feita se os responsáveis forem punidos rigorosamente, servindo de exemplos para se evitar tragédias semelhantes a esta no futuro.
 
A situação sórdida do caso até agora foi o surgimento do menor H. A. M (17) como culpado pela morte de Kevin. Este jovem só foi apresentado à Justiça brasileira quando se encontrava em solo brasileiro. Armaram uma trama para que este jovem escapasse do flagrante e não se apresentasse às autoridades bolivianas, pois se isso acontecesse seria preso imediatamente. Neste caso, a menoridade na legislação boliviana é de 16 anos, ao contrário do Brasil que é de 18.

Observando por esta ótica, houve acobertamento, conivência. É justamente isto que as autoridades bolivianas estão questionando e mantendo presos os doze torcedores até o fim das investigações.

Podem chamar a Bolívia de pais atrasado, mas em termos de legislação está anos luz a frente do Brasil em termos de menoridade.
 
Além do mais, o tal jovem, que levará para o resto da vida o peso da morte de outro jovem, foi condecorado como herói pela Gaviões da Fiel recebendo uma bolsa de estudos como prêmio. Belo gesto de pura hipocrisia.
 
A Justiça brasileira alega não poder fazer nada contra o menor, pois o crime foi cometido em terra estrangeira. Belo exemplo de não civilização.
 
Sob pressão de dirigentes e da sua enorme torcida corintiana, a sociedade brasileira está sendo levada a entrar no caso, queira ou não. Estão querendo transformar este caso lamentável em disputa internacional, sem respeitar a soberania boliviana.
 
Por incrível que pareça, e aproveitando o interesse dos votos dos torcedores, o deputado Fernando Capez, o até então temido inimigo número um das torcidas de futebol, entrou na briga e promete que ajudará os doze torcedores a se livrarem do cárcere boliviano.
 
Como cidadão brasileiro Capez pode fazer o que é melhor para si, mas como representante do Parlamento Estadual e da Promotoria Pública deveria fazer jus aos votos pelos quais foi eleito. Sua função pública é para melhorar e aplicar a legislação brasileira no seu cumprimento pleno. Pelo visto, Capez, agindo por interesse político, se mostra ser mais um político comum da triste política brasileira.
 
Volto a afirmar: não sou a favor da prisão sumária dos doze torcedores corintianos. Sou a favor da justiça igual para todos.
 
Portanto, também não se pode ser favorável que a Justiça brasileira se envolva neste caso, enquanto não é capaz de fazer justiça nem mesmos com os milhares, talvez, milhões de brasileiros presos injustamente, na atualidade, nos apodrecidos cárceres do país.
 
Enfim, há uma lição a ser aprendida com tudo isso: o futebol, o esporte em si, é simplesmente um lazer e não lugar de matança.
 
O pior de tudo o que possa acontecer daqui em diante é se os torcedores corintianos forem soltos, e torço por isso, e serem recebidos como heróis no Brasil.
 
Se isso ocorrer, mostra que o Brasil não está no seu bom estado de juízo de justiça social. Será uma agressão contra a ética e a moral.
 
Daí para frente só restará o caos. Tomara que eu esteja completamente enganado.

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