segunda-feira, outubro 04, 2010

Marina é quem decide

Para um bom entendedor de política brasileira, meia palavra basta. Estava na cara, desde quando se iniciou a pré-campanha eleitoral, principalmente depois do anuncio, ou melhor, da imposição de Lula ao indicar sua chefe de gabinete, Dilma, à sucessão. Ao mesmo tempo, ele sabia que, apesar da popularidade, teria tarefa redobrada para convencer, primeiramente a cúpula do PT, depois os aliados e, finalmente, o eleitorado, como sempre.

Dilma, uma antipática por natureza, filhinha de classe média, metade brasileira, metade búlgara e metida nos cafundós das guerrilhas, onde foi estrategista de assaltos a bancos, seqüestros e assassinados, até de jornalista. Como iludir, primeiramente aos próximos, depois a mídia e na seqüência o povo brasileiro de que esta mulher, intragável e geniosa, seria candidata à presidente da República?

Coloquemos a cabeça para funcionar, pois não é possível que um torneiro mecânico seja mais inteligente que toda a intelectualidade brasileira? Simples, Lula agiu com a astúcia, ao estilo Getúlio, Jânio Quadros ou Adhemar de Barros, para citar alguns. Ou seja, ele, influenciado pela matemática de Marco Aurélio, seu guru, pensou: Tenho mais de 70% de aprovação popular. Certamente conseguirei transferir para Dilma pelo menos uns 40%. E os outros 30%? Foi daí que surgiu Marina e o PV, já que no PC do B, não havia ninguém competente para tal jogada maquiavélica. Muito menos no bagunçado PMDB

Marina, que em seis anos foi fiel escudeira de Lula, deixaria o Ministério do Meio Ambiente, assim como Gilberto Gil também deixou a Cultura, se dizendo chateada com o PT e o próprio governo. Tudo fachada, golpe mesmo. Neste ínterim, o nome de Dilma foi lançado. O governo usou toda a sua estrutura para fortalecer o nome da antiga guerrilheira por meio de marketing na mídia, inclusive tentando apagar o passado dela.

Nas primeiras pesquisas, Dilma não incomodava ninguém e os protestos dentro do PT e até dos aliados começaram. Lula mandou injetar mais dinheiro na mídia e na promoção de Dilma como ministra. O esforço valeu. Enquanto isso, Marina lançava sua candidatura e Serra estava na liderança das pesquisas.

Ciro Gomes ameaçava se candidatar também. Isso para Lula não era bom, pois Ciro poderia levar com ele parte dos aliados, os da esquerda, o que viria enfraquecer o nome de Dilma. Lula propôs, então, que Ciro saísse candidato ao governo paulista. Ciro rejeitou. Lula se irritou. Chamou Ciro para uma conversa, muito particular, e o resultado foi a desistência de Ciro de tudo. Lá se sabe o que ambos acertaram? Notadamente foi algo lucrativo para as ambições de Ciro, que gosta de levar vantagem em tudo, pois assim é talhado ele e sua família, no Ceará.

Com Ciro fora, Lula intensificou a campanha em torno de Dilma e só se deu por satisfeito quando ele, a tiracolo, passou a levar Dilma em todos os atos públicos. Choveram processos de que ele estaria utilizando a máquina pessoalmente em favor de Dilma, que nas pesquisas já encostava e mais para frente ultrapassaria Serra.

Percebendo que sua estratégia deu certo, Lula passou a descartar, sensivelmente, Marina e o PV. A coisa foi piorando. Até que nas vésperas das eleições, pesquisas apontavam que Dilma ganharia folgadamente as eleições já no primeiro turno.

Aparentemente traída, Marina foi para o revide, se saindo muito bem nos debates, superando a própria Dilma. Com isso, ela foi ganhando pontos nas pesquisas, chegando a preocupar Serra. Menos Lula, que já contava com o já ganhou.

Resultado final, os votos que Lula almejava foram descarregados em Marina, com 19.636.059. Agora que Dilma e Serra disputam o segundo turno terão que se engalfinhar para ter os votos de Marina. Está nas mãos dela, em tese, o futuro do próximo presidente do Brasil. Com isso, o feitiço virou contra o feiticeiro. Lula, que ajeitou a candidatura das duas mulheres, terá agora que depender justamente daquela que ele plantou e descartou no meio do caminho.

Com a palavra, Marina Silva e dos 43.243.278, sendo 19.636.059 dos votos dela, mais 24.607.219 das abstenções, assim como os 3.479.260 de brancos e os 6.123.862 de nulos. Serão 135.804.433 de brasileiros que escolherão entre Dilma e Serra para governante. Começa mais uma nova fase da política eleitoral brasileira.

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